segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Porta Fechada






Parei em frente a sua porta e bati; bati várias vezes, não houve resposta alguma, até pensei em chamar seu nome, mas nunca soube se tinha um c no meio, preferia que não tivesse..
Por que você não deixou a porta aberta? Eu tinha esperança que um dia me deixasse entrar, talvez estivesse ocupado demais tentando ser desejado para me enxergar, por mais que esticasse os braços nunca era o suficiente, você estava inalcançável, era uma ilusão cibernética.                                                                                                              Encostei-me na porta e sentei, abracei os joelhos esperando um sinal, um leve tintilar de pés, uma voz, um girar da maçaneta, soava como rejeição, tinha aquele sabor acre e angustiante típico da rejeição, mas não era, ou era? Sempre dizia '' Não, mas eu te quero, não vá embora, espere!'', dava um nó na garganta, um tapa na cara, uma confusão! Nenhum dos dois era normal, parecíamos perfeitos em um encaixe deformado; neuróticos, entediados, complexados, não que eu tivesse desenvolvido um sentimento, era um desejo louco na verdade, tocar e sentir alguém que dividia das mesmas sensações, do mesmo caos, da mesma profundidade.                                                                  

Fiquei ali por horas, boca seca, estômago doendo, insistência e urgência são defeitos de fabricação, carma que faz do indivíduo um escravo psicótico-neurótico de si mesmo!       Qual era o problema comigo? Falta de Beleza? Desinteressante? Parecida demais com você? Ou era só mais um escravo de suas próprias neuroses como eu? Tão belo em toda extensão do seu ser, um amontoado de pele, cabelo, músculos e pensamentos, inteligente e sensível, tinha alma de poeta, só não ousou escrever, perdido no cinza da metrópole, trancado entre paredes e halteres, filmes e espelhos, quem sou eu para descrever.. Levantei exausta, havia fracassado; outra vez, uma vez mais, quantas foram? Negou meu ser, minhas carícias, minha companhia, quem diabos eu era? Respirei fundo e abri a mochila, arranquei uma folha da agenda velha e vazia, eu sempre compro agendas esperando usa-las, mas sou imprevisível demais até para conseguir organizar uma...Escrevi com caneta preta e letra garrancho; escrevo com tanta intensidade que a forma é quase abstrata :
       

   ''Se um dia me quiser, talvez a porta ainda esteja aberta! Beijos.
               Rua: Capitão Alvim, número :1000, apt 22 bl D''
            

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