terça-feira, 11 de novembro de 2014

Como amar alguém que mora dentro de mim?


Todas as noites quando encosto a cabeça no travesseiro, repito como em um célebre ritual :

- Eu preciso me bastar. A carência deste corpo é desumana, qual o preço a se pagar pela solidão? As fendas do meu coração sempre foram preenchidas com pessoas, sem distinção de sexo, cor ou idade; abracei o mundo todo em meio ao caos, nunca fiz por mal, é pura necessidade, necessidade doentia de calor humano. 

Eu sabia que estava me perdendo, sentimentos desenfreados, uma lista interminável de nomes, tatuariam puta na minha testa antes que eu me desse conta, seria uma falha de caráter?

Sedenta desde o nascimento, esfomeada, chorona e descontrolada, esbanjando afeto pelos poros, eu deveria ter um vestidinho escrito '' me ame'', não me ensinaram o amor próprio, é tão triste o fato de que muitas pessoas não amem a si próprias, pois afinal, você pode perder tudo, mas sempre  restará o você, em carne e osso para lhe acompanhar, dia-a-dia.  

Como amar alguém que mora dentro de mim? Para uns parecem tão fácil, para outros é como travar uma guerra no inverno russo, sem amor próprio a sensação de vazio e solidão lhe acompanham como parasitas, e um ciclo escravista instala-se em sua vida, faz de tudo para ser amado, mesmo que não vá amar o próximo; tenta ser belo, dócil, afável, interessante, inteligente, agradável, sexy, sem ao menos se dar conta torna-se escravo de tudo e todos... 

Está tentando comprar o amor alheio com um belo sorriso, belas pernas ou pensamentos sagazes, consegue parar? Está tapando buracos com lama, vai acabar sempre suja e solitária, é impossível alguém trilhar essa estrada ao seu lado, até porque nada parece lhe bastar, nada vai, até que você se baste... 

Tranquei as portas, desliguei o celular, e prometi não ceder ao desejo insano do outro, é um processo de desintoxicação doloroso, abraço o travesseiro e cerro os dentes, a solidão do mundo todo parece estar sobre minhas costas, fecho os olhos e imagino uma respiração ao meu lado, ela não tem forma, é só minha fome doentia por qualquer coisa que tenha sangue correndo nas veias, cubro a cabeça e choro, continuo até que o sono me vença, venci mais um dia, ao menos mais um... 

Nenhum comentário:

Postar um comentário