segunda-feira, 15 de abril de 2013

Um Dia Sem Salvação

 

Um dia sem salvação, caminha desolada, cruza as ruas sob o eco do teu choro, arde o sol sobre a face pálida, os fios de cabelo grudam no rosto, estão molhados de suor e lágrimas, pés que mais se arrastam do que andam, lábios cerrados e selados de um desespero inútil, angústia tola, menina boba, isto tem gosto de febre juvenil.
  A alma não lhe cabe, tu tens fraqueza sentimental, tens estado arredia para enfrentar a vida, enche-se de esperança, exala vivacidade, é puro amor, mas lhe falta o essencial : Força.
  Força para aguentar os intempéries da vida, os dias são repletos de baldes d'água fria, socos e pontapés, machuca-se com facilidade, morre-se com facilidade, pensamentos tornam-se patológicos, sentimentos atrofiam o coração, literalmente não estás preparada para tanto, tuas feridas não saram,  você sangra o tempo todo, vez ou outra faz um curativo violento, a euforia incontrolável de uma menina indestrutível, sorrisos intensos, sabores adocicados, beijos e abraços, suor e calor, vontade e coragem, veias que fervem, o sangue que pulsa ai dentro só pode ser outro, o corpo faz piruetas para acompanhar o ritmo, quem disse que a alma não enche um corpo? Quem disse que alma não pesa no corpo? Diz isso quem não conhece tal alma, tal corpo, tal jovem de coração atrofiado, o riso vira pranto tão fácil como o pranto virou riso.
  Senta na cadeira da terapeuta, abre a boca, o choro sufoca as palavras, a voz sai tremida, as lágrimas rolam,  pingam e respigam na mochila apertada contra o peito, tudo parece mais fácil do que encarar outro olhar, a fraqueza revelada, o ser humano derrotado, a juventude transviada, a ninfeta esquecida , a criança machucada, a mulher amedrontada, o agressor recalcado, todas as faces de uma só pessoa chorando sob a dor incalculável, a dor impalpável, a dor inexistente, esse dia é um dia sem salvação.