quinta-feira, 19 de junho de 2014

O Fim da Paixão

Fitavam o teto como dois estranhos enquanto o cheiro de sexo exalava em cada canto, mas não era como antes, a paixão já não pintava aquelas paredes, os beijos deixaram de ser ofegantes, já não se olhavam como antes, um não chamava mais o nome do outro, os corpos não mais se engoliam, gemidos falsos e mecânicos, era uma prisão para ambos, pisavam sobre as cinzas de um sentimento que não existia mais.

- Sah, eu preciso lhe dizer uma coisa.



Pete arrumou o travesseiro e cruzou os braços atrás da cabeça, era um  jovem adulto nu e entediado ao lado da namorada. Os fins são sempre tão amargos; como gosto de cigarro velho, já havia beijado cada ínfima parte daquele corpo, a pele branca costumava incendia-lo, cerrou os lábios e fechou os olhos tentando sentir uma gota que fosse daquele prazer, mas não importava o que ele fizesse, tinha acabado.


- Eu sei, você não me ama mais...

Samantha puxou o lençol até a altura dos seios, encostou a mão sobre a de Pete e lembrou de cada noite mal dormida, que belas noites mal dormidas! Velava o sono de Pete completamente apaixonada, ouvia encantada a respiração leve dele, os cabelos loiros sempre bagunçados, teve vontade de rir, um riso de desespero.

- Eu nunca te amei, olhe bem , consumimos toda paixão que havia entre nós e não sobrou mais nada, nenhum resquício de amor.

Ela se virou enfurecida.

- Quer que eu acredite que tudo que vivemos não era amor? Porra! Eu te amei tanto!

Pete respirou fundo e sentou-se na cama.

- Eu pensei que era infinito, tudo era tão perfeito, até nossas brigas eram perfeitas, reconciliações regadas a cerveja e sexo, lembra? Quando me deu um tapa por ciúmes, foi uma das melhores noites da minha vida! Abaixou a cabeça, evitava olha-la nos olhos. 

- As brigas começaram a ser desgastantes, o sexo entediante, paramos de trocar mensagens todos os dias, seus defeitos apareceram um a um, odeio sua voz, e você toca mal demais! Eu amava te ver ensaiando. 


- E eu então? Adorava ouvir você falando de filosofia e esportes, achava suas birras engraçadinhas, mas porra, foi ficando um saco! E eu sei que você dormiu com um homem semana passada! Eu soube no exato momento em que cruzei a porta no dia,  parecia mais viva, a pele brilhava, e seu olhar de culpa lhe entregou. 

Engoliu a seco e respirou fundo, parecia ter congelado, mas nem se tratava de uma tragédia shakesperiana, pois não havia paixão, amor, ou algo semelhante.

- Me desculpa, por favor! Aconteceu, ele não importa, eu juro! Por quanto tempo você iria esconder que sabia?

- Por quanto tempo você esconderia? Interrogou ironicamente.  Eu  fiz o mesmo, eu também dormi com uma garota! Passei a noite com ela ontem.

Olharam-se fixamente, estavam mergulhados em ciúmes , mágoa e raiva. Isso acontece com muitos casais,  o orgulho ferido faz muitas pessoas acreditarem que ainda se gostam, mas é puro egoísmo humano. Pete era esclarecido o suficiente para perceber isso; Samantha não.

- Desculpa! Samantha abraçou a cintura dele desesperada.  Não me deixa! Por favor!

Em outra ocasião estaria enfurecido, ser traído é dilacerante para qualquer um, no entanto, sentia pena, Samantha não conseguia entender que  já tinha acabado, a traição veio só a calhar para ambos. Esses desesperos são recorrentes em términos, ninguém gosta de perder! A garota implorou repetidas vezes, o abandono soou tão aterrorizante, as horas com Saymon pesaram como uma âncora de navio afundando-a em remorso, mas era falso, típica armadilha que a consciência nos impõe.

- Eu vou sempre lembrar de você, ok? Acariciou os cabelos dela rapidamente e fitou o teto novamente. A garota começou a chorar drasticamente, soluçava e apertava-o com força. Nada pior do que ver uma garota chorando, dá um nó na garganta.

- Acho melhor eu ir, né?

Levou um bom tempo até conseguir escapar das lágrimas da garota,  pegou suas roupas no chão e saiu pela porta sem olhar pra trás.  Samantha ainda  chorou algumas horas, mas logo caiu em si, ele estava certo.


Ele deixou um buraco na cama que não demorou a ser preenchido, porque paixões vem e vão, são como andorinhas de verão. O amor não, o amor constrói casa, uma casa que a maioria de nós nunca viu.
E certamente não é como nos livros, ninguém morre de amor, ou vive de amor, apenas ama! Gradualmente e pacientemente amando um defeito de cada vez, é tão concreto que não posso ao menos imaginar como é, a pergunta é , você já amou? Amor acaba? Não sei...