terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Fênix


Renasci das cinzas do inferno, renasci como um alguém que descobriu o mais crucial da vida,  o simples fato de respirar, de ter a chance de degustar esse chocolate meio-amargo que é viver, ainda carrego as dores de sempre; meu joelho ainda  dói, qualquer carinha que eu goste parece ser um problema, decepciono o próximo como ninguém, o espelho é uma terrível distorção, alguns dias são pesados, certos sentimentos são incontroláveis, os traumas continuam aqui, porém, a vida soa mais viva! 

Percebo as batidas do coração, reparo na árdua beleza do sol, sinto o ar entrando nos pulmões, e mesmo quando a dor é insuportável, como as agulhadas pertinentes no joelho, procuro respirar fundo, não me desesperar, desmotivar! O que seria da raça humana sem o mínimo de esperança?

Como um animal não devo pensar no pós vida, sendo espírito ou pó de estrelas acabamos onde a memória termina. 

Em uma outra dimensão, outra vida, ou no fundo da terra já seremos outro alguém, outra existência. Somos nós unicamente agora, o fim não é uma tragédia, é só o fim. E como o final parece ser um fardo para a raça humana! O fim da inocência, de um sonho, da saúde, de um membro, de um amor, de uma paixão, de uma vida toda! 
Se encarássemos de perto, o dito cujo deixaria de ser um monstro de sete-cabeças e o conteúdo atual seria essencial!
Planos para o futuro são ótimos, mas esperar que o amanhã traga paz, sucesso e amor é torturante, o amanhã nunca chega! Consideramos que a arte é uma imitação da vida, mas a arte é tão abstrata, a realidade é de uma crueza decepcionante, mas pode ser instigante lidar com ela.
Eu tive milhares de sonhos, todos largados no caminho, eles não me pertencem mais, o passado não sou mais eu... E se tivesse sido diferente? Desde pequena convivi diariamente com essa frase, alimentando-a. 
E se meu pai me amasse? E se o mundo fosse mais bondoso? E se eu não tivesse mentindo? E se eu não tivesse cortado minha pele? E se eu não tivesse bebido tanto? E se eu não tivesse desgastado meu joelho?


Esses ''se'' não permitiram que eu desfrutasse do que logo viria a se tornar um ''se'' ... Quanto desperdício de vitalidade! De paixão! De significado! De prazer!

Os fracassos nos assombram, por que são um fracasso ou por que o nomeamos como um? Tornei-me auto-depreciativa de um modo que cheguei a considerar isso uma qualidade, destruí meu ego! Ninguém pode sentir-se completo quando corta-se em pedacinhos o tempo todo! 
Tenho fome de amor, de prazer, de paixão! Quem não tem? Ver-se como os demais pode aliviar o egoísmo e a dor, o egocentrismo! No mesmo prédio deve ter uma senhora morrendo de dor nos joelhos, imaginando-se tempos antes, não somos únicos, não estamos sozinhos, apenas nos fazemos sozinhos! Jamais descobriremos o real significado da vida, ele é mutável, construído hoje, banhado em tantas emoções que seria impossível racionaliza-lo! 
Costumo calar, todos costumam calar quando são confrontados com pensamentos, sentimentos! Eu morro de medo que isso seja uma alienação, é preciso realmente sofrer como um condenado para ver a vida como ela é? Não basta estudar, refletir, vejo a importância do viver, do sentir, tocar e quebrar. 
Na maioria das noites sinto falta de alguém, pode ser até de mim! Não acredito que eu vá me encontrar com uma fórmula mágica, ninguém se encontra, ele já é, basicamente, estamos sobrecarregados de ilusões espertas! 
Repare no funcionamento do teu corpo, nas falhas, nas forças, sofrer trás uma certa envergadura que as crianças certamente não conhecem, ou pelo menos não deveriam! 
Preciso me sentir completa, bonita e amada para ser feliz? Preciso ter saúde? Preciso ter dinheiro? Eu preciso ser feliz? Dói saber que enfiam tanta merda em nossas cabeças, mentiras que ferem nossa personalidade. Me assumo animal, fêmea que está tentando se adaptar a seleção natural, só! Nada é tão complexo quanto o simples, ele abrange o mundo! Que medo do mundo! Que medo das pessoas! Dos sentimentos e da vida! Eu quero tudo pra mim ao mesmo tempo que desejo fugir ou inexistir! Certamente; é assim com todos. 
Os politizados, os analfabetos, os honestos, a mulher, o homem, o velho, o assassino! Não quero ter mágoa do universo, o universo sou eu, e tal sentimento voltará como um borrão de sofrimento! Bolhas de insatisfações! 
Por que não  perdoamos a vida? Por que a revolta? Por que a fuga constante de si mesmo, quero tocar a terra!  As pessoas! As dores e amores! 
Quero destituir-me da compulsão, do medo, da carência, sair dessa capa fria e obsessiva... Por que não sermos belos por dentro?
 


domingo, 9 de fevereiro de 2014

Maldição da Estética.


Estética : s.f. Ciência que trata do belo em geral e do sentimento que ele faz nascer em nós; filosofia das belas-artes.



Quando li esse significado uma ponte desabou sobre minha cabeça, em sua essência a estética não se assemelha em nada ao conceito atual que temos dela, vai além das milhares de clínicas que vejo por aí, das cirurgias plásticas, dos produtos de beleza, das academias...
Somos constantemente bombardeados com a ideia de estética ideal, um ritual, uma compulsão, uma tristeza eminente disseminada em nossas almas. Lá está a beleza; uma escultura gelada em um enorme pedestal, imóvel... E morta! 
A cultuamos como bons fieis, ela tem poderes sobre-humanos, características perfeitas, caráter inquestionável. Ela é uma deusa ou a endeusamos?
 Quando encaro o espelho procuro o reflexo da escultura, é como um tapa na cara, cada traço diferente da deusa é um defeito, imperfeições que assombram, machucam por dentro..
O quão doentio lhe parece sermos todos assim? Qual o verdadeiro significado da beleza física quando ela vai se deteriorar com os anos? Nossa pele será machucada, envelhecida, talvez destruída e um dia a terra sob nossos pés irá comê-la. Todo o esforço para conserva-la será em vão, todo o valor será nulo, perdido no tempo, no nada.
Ao envelhecermos a textura da pele será lembrada apenas em fotos amareladas, ou daqui há alguns anos, em máquinas, hologramas, mas no fim, será apenas uma lembrança! Os cabelos bem arrumados, as roupas estonteantes, o esculpimento do corpo, unhas, músculos, dentes; tudo é visto como essencial, por que uma luta tão injusta? Visando que o inimigo é quase cósmico, mítico. Seres humanos; eu só os enxergo por fora, a carne frágil, exposta, solitária...
Se pudéssemos ver além, enxergar a vida em si, o funcionamento dos órgãos, das células, o sangue pulsante nas veias, aconteceria um surto de amor? Eu poderia romper as correntes da estética? Poderíamos tocar uns aos outros verdadeiramente? Entregar-se aos instintos carnais mais primitivos?  Derrubar a escultura da beleza, o que seria do mundo? O que seria de nós? Acordaria sem rejeitar minha pele? Os homens poderiam só pentear seus cabelos ou alisar suas as carecas sem pesar? As mulheres poderiam jogar fora as listas de obrigações estéticas? Ou o mundo seria um colapso? Onde se encontra o meio-termo? Ou a raça-humana não tem um?
 O reflexo nunca será o bastante, ele jamais será o retrato-falado da beleza, comemos merda para nos sentirmos belos, desperdiçamos vida, desperdiçamos alma, coração, sangue, suor, vitalidade e até uma existência inteira em busca da beleza, e o mais cruel; jamais nos sentimos plenos, pelo contrário, parece existir um coro de vozes nos atormentando, lembrando de cada defeito, pode existir paz de espírito nesse meio?
 Dizem que a beleza desperta amor, paixão, afeto, solidariedade, tudo o que há de bom na vida. Olhemos o mundo, nós estamos bem? Estamos saudáveis? Estamos em paz? Estamos felizes? Há toda uma tristeza por trás do mito da beleza.